
O livro trás momentos impressionantes da história do Irã, como o que mostra como as mulheres passaram a usar o véu por afirmarem que seus cabelos emitiam energias que excitavam os homens, de forma que eles não eram responsáveis caso decidissem executar o estupro. A rotina da menina e de sua família era somada ao grande clima de terror interno e externo, provocado pela guerra contra o Iraque. No Irã de Marjane qualquer um podia ser seu inimigo. O livro é fantástico. Revela toda a acidez que permeia a mente de um jovem. Os pais de Marji faziam parte de uma classe média, intelectualizada e socialista. A presença deles nas manifestações contrárias ao regime era algo constante, mas Marji nunca entendia muito bem o que levava seus pais fazerem isso e muito menos a razão da vergonha de andar no Cadillac de seu pai. Entre conversas que tinha com Deus, participações escondidas nestas manifestações e a leitura de vários livros, Marji começou a entender o porque certas coisas aconteciam: "A razão da minha vergonha e da revolução é a mesma: A diferença entre as classes sociais." Ela não via sentido nas desigualdades cada vez mais abismais entre mulheres e homens do seu país. O que realmente não tem.
A menina, que vai crescendo ao decorrer da história, começa a perceber a diferença, a sutil diferença, entre ser o que o mundo determina e ser o que tem significado pra ela. Sem medo de se expor e de lutar pela sua verdade, ela vai sendo moldada pelas suas experiências, não abrindo mão dos valores e integridade, como sua avó costumava dizer. Marjane Satrapi traduziu neste livro tudo aquilo que parece estar mal resolvido dentro de nós, mas nada que um pouco de coragem e autenticidade não deixe esclarecido. Um fato emocionante que pulsa vida!
O mais legal são as semelhanças entre ela e o leitor. Sem dúvidas, as mentes inquietas do mundo se viram no universo de Persépolis. E claro, assim como ela, macarrão fez parte da minha vida por um bom tempo. Adorei o livro!
"Por trás de aparência de mulheres modernas, minhas amigas eram autênticas tradicionalistas."
(Persépolis)
Paz e bem
Aline.