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quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Eu conheci o Seu Darci

Uma história apimentada pra vocês.

A pimenta “dedo de moça” é bonita. No Natal lá de casa, comprei algumas para decorar um dos pratos. Vermelhinhas, paguei um real em três delas. A única coisa que eu não sabia, era que seu Darci vendia de sua plantação em Vieira, um caixote de feira, cheio delas, por apenas uma nota de vinte. Ele mesmo me disse isso.

Quando ia em direção à casa de Patrícia, vi um senhor de 59 anos, de aparência cansada pelo tempo, no meio de um matagal bem desorganizado. Digo isso porque é muito comum aqui na cidadezinha, a plantação ser de uma ordem invejável. Mas seu Darci, não. Enquanto o grupo decidia na esquina em qual direção seguir, fui até ele e perguntei: - O que é isso, moço? E ele respondeu: - É pimenta “dedo de moça!” Disse como quem conhece. Como quem sabe e faz leitura de seu ofício todos os dias. Então um jovem se aproximou dele, dentro de seu quintal, e lhe ofereceu uma bíblia. - Ah, vocês são crentes? - disse ele. – Os crentes são bom! Nem sempre, seu Darci. Pensei. Segui meu caminho e decidi voltar ali outra hora.

Voltei.

- Ô senhor, posso entrar? Não. Não havia um portão e nem mesmo um muro cercando o lugar. Entrei e ele muito simpático – muito mesmo – me recebeu com um sorriso deveras incompleto, porém mais sincero impossível. Era homem negro, de barba branca encaracolada, vestindo um terno cinza desbotado e com uma bermuda sem braguilha. Descalço, arrancando encurvado as pimentas uma à uma:

– Pode chegar. Vem cá!

Eu estava sozinha. Olhei para um lado e outro e pensei: Aqui tem uma história. Dito e feito, Seu Darci foi um achado. Conversou comigo e me mostrou em meio ao seu “desorganizado mato”, o que pra ele era mais importante. Tudo que seu coração podia alcançar, importava.
- Eu não planto só pimenta, não. Eu planto milho branco também. Aipim e Inhame têm lá na lavoura. Me disse quando um milho está bom:

- Ele tem que tá envergado assim, ó.

Mostrou-me meia dúzia de folhas que lhe serviam na hora das dores:

- O nome dessa é “tibiótico”. – É o que Seu Darci?, Duvidei. – Tibiótico. É bom pra dor de cabeça.

Certo, então. Ele está dizendo. Alguns minutos depois apontou Dona Elza. Escondida naquela casinha de dois cômodos só, ela olhou desconfiada, mas logo veio falar também:
– Oi, tudo bom com a senhora? Falei. - Tudo bom. E você?

Juntos há quatro anos, me convidaram pra entrar e tomar um café. Mais três jovens se aproximaram e ficaram até o fim da nossa breve prosa. Perguntei à ele se gostava de assistir televisão: - Gosto. Gosto dos programa que fala de cura. De Jesus, de Deus.[...]

E nos contou assim da noite do dia onze:

- Eu vi a casa balançando, mas cheguei aqui na minha porta e falei com Deus. Eu tive muita fé. [...] Eu queria ajudar as pessoas na hora, mas num dá. A gente só faz o que pode.

Enquanto Dona Elza passava o café, ele contou que já havia sido casado:
- Eu tinha 22 e ela 14. Era uma menina, mas cozinhava muito bem. - Mas casou com ela, seu Darci?
- Não. Só juntei. Eu tenho uma filha, mas não sei dela não. [...] Já quis ir pra São Paulo, mas Elza não quis.

- E o senhor já casou com dona Elza? - Não. Só juntei também. Mas eu vou casar com ela.

Todos riram. Veio ela nos servir o café e eu agradeci:
- Muito obrigada, mas eu não bebo café. - Não bebe café? – perguntou ele. - Não. E nem refrigerante! - Você é saudável demais. Então você quer leite? Tem leite. Dá leite pra ela Elza.

Rimos outra vez. Descobrimos que a geladeira da casa não funcionava e que a usavam como se fosse um armário para guardar suas coisas. Falamos mais sobre pimenta.
- Só não bota a mão no olho!

Brinquei dizendo que eu era brava, como a pimenta e ele retrucou:
- Você é moça e pode ser braba, só que não queima como ela.

Foi divertido conhecer seu Darci. Uma pessoa que me intimidou com sua tamanha falta de constrangimento. Pela simplicidade que saía pelos poros. Pela sua razão em se contentar com tão pouco e ainda assim, querer compartilhar o pouco que tem. No dia seguinte, voltei lá. Ele estava esperando o moço que iria comprar o caixote de pimenta. Aquele que demorou quase duas semanas para encher.
- Vai vender por quanto, seu Darci? - Vou vender por vinte. - Não, seu Darci. Vende por 35! O que acha?

Ele riu e disse que assim o faria. Parece ter gostado da idéia. Resmungou algo do tipo:

- É. 35, né Elza?
Já indo embora, ele falou:
- Você não vai querer pimenta? - Tá bem. Só uma. - Só uma? - Resmungou com dona Elza. - Aqui. É tudo pra você.

Meu cálice transbordou. Eu sabia que ele não queria nada em troca. Foi só porque eu estive ali. Só falamos de pimenta e café. Cantei um trecho da “Tristeza do Jeca” e rimos das coisas importantes pra eles. Elas devem se tornar importantes para mim. Quando saía, com minha sacola cheia de pimentas, ele disse:
- Quando eu for casar vou mandar um convite pra você. Aí você vem fazer o casamento?

Disse sim, ri e agradeci. Então só pensei:
Talvez nunca mais o veja. Mas tudo bem. Não tem problemas. Eu já conheci o seu Darci. Tenho pelo que esperar.


Os bastidores:
Sobre a pimenta que ele me deu


Nunca mexi com pimenta. Gosto do cheiro dela, mas me atrevo cabreira quando coloco na comida. Acordei sábado passado e nem tomei café. Passei a mão na sacola. Estava ansiosa para preparar tudo e colocá-la num bom azeite que encontrei numa promoção. Adoro promoções. A boba aqui, começou a cortar os cabinhos das malaguetas como se fossem galhos de uva ou ponta de quiabo. Feliz da vida. Até aí, tudo bem. Preparei tudo. Coloquei no vidro. Ficou lindo. Algumas horas depois, minha mão pegava fogo!! Não há como descrever. Parecia um fósfoto aceso na palma dela. Passei a tarde toda passando gelo e sacudindo ela pela casa.
Pois bem Seu Darci. O senhor só me disse pra não colocar a mão nos olhos, não a mão na pimenta! Levei ela lá pra casa... deixei lá. No alto do armário da cozinha da minha mãe. Um dia, algum corajoso vai entender do que eu estou falando.

Paz e bem.
Amora.
Aprendiz de pimenta.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Mãos dadas

"Não serei poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande. Não nos afastemos.
Não nos afastemos muito... vamos de mãos dadas.

Não serei cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas.
Não fugirei para as ilhas ou serei raptado pelos serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.
-Drummond-


Dia da poesia.
#poesiaétododia
Paz e bem
Amora:)

sábado, 12 de março de 2011

Bom fim de semana


"A gente não erra quando ama uma pessoa. A gente erra em esperar que ela nos ame da mesma maneira."

#meditandoemamor
Paz e bem.
Amora:)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quando estive em Vieira

Eu conheci Patrícia e Djalma.

Tênis branco não foi uma boa idéia. Pensei que nessas horas, isso é o que menos importa.

Por rastros de barro novamente molhado, foi que desci por uma das ruas de Vieira, ansiosa para que meus olhos encontrassem logo um portão onde eu pudesse parar. Então, vi três pessoas que olhavam em minha direção. Que bom. Eu só precisava disso. Patrícia me recebeu com um sorriso educado. Bonito e aberto. Como quem diz: Seja bem-vinda. E numa conversa pouca, ela me contou o que a sua lembrança guardava daquela noite a qual nunca mais vai esquecer.

Eu sabia que ela continuaria a sorrir se eu dissesse que seu nome era bonito. Patrícia, chama ela. Assim o fiz. Ela sorriu. Gosto de fazer isso. Casada com Djalma, um homem jovem, de olhar afetuoso e trabalhador, ela diz que toda família trabalha na lavoura. “Aqui, todo mundo ajuda todo mundo!”, fala a filha de 12 anos. Esperta e sabida, me quis a menina fazer atravessar o rio. Sem medo, quase me convenceu. E planta-se alface, cebolinha e toda espécie de cheirinhos e verdes que conhecemos. Vieira tem cheiro mesmo é de salada. Isso é um belo trabalho, eu disse ao Srº Djalma, que completou: “Mas tudo ficou mais difícil pra nós. A água levou nossos material tudo. [...] Uma caixa de alface eu vendo por quinze reais. Aí eles revendem, e essa pessoa é quem passa pros mercados onde vocês vão. A gente aqui da roça é explorado demais. Explorado demais. [...]”

Em Vieira, as casas parecem pontos pequenos entre as montanhas. Não há sinal do governo, ou tipo algum de assistência que os cabe por direito. Há, sim, uma série de voluntários e amigos bem intencionados, que fazem parte de um rodízio humano desde que tudo isso começou. Seja para acalentar ou disfarçar o remorso, registrar a dor da perda alheia na memória ou mesmo por entender que, é no estender das mãos que eu sou mais do que um cumpridor de tarefas: Eu sou a extensão do amor que habita em mim. E ao falar das dificuldades, Patrícia engasgou um choro guardado pra gente. (Sobre a dor, ela me incomoda e me faz sentir estranha. Não sei consolar. É um desconforto que nos pertence, se realmente soubermos o que fomos fazer ali. Afinal, o que nós realmente fomos fazer naquele lugar?) Seu sogro, um senhor já de idade, cunhados e sobrinhos, não estavam mais lá para nos contar também o acontecido. Nos contar como, às vezes - nem sempre - a gente consegue fazer algo para salvar alguém. Convidando-me pra ir até a varanda de trás de sua casa, eu ouvi o barulho pesado do rio e ela lembrou assim:

“Tudo que eu mais queria e pedi pra Deus, foi que o dia amanhecesse logo pra que eu pudesse ver. [...]”

“Tá vendo aquelas pedras ali? Elas não estavam lá. A água trouxe tudo. Aquele pedaço de concreto, vê? É da ponte que foi carregada também. Lá do outro lado do rio é onde a gente trabalha. A gente atravessa o rio todo dia, por dentro da água mesmo, pra ir lá. Não tem como fazer de outro jeito. Tem que plantar ! Na noite do dia onze, parecia que tava chovendo dentro do nosso quarto. Eu levantei e falei: Djalma, acende uma vela e vai lá fora ver isso. Mas a gente não via nada. Tava tudo escuro e só os relâmpagos clareava aqui. Não tinha luz aqui. Depois o menino veio pedindo nossa ajuda. Foi quando a gente viu que tava acontecendo alguma coisa. Eles tavam lá embaixo pedindo socorro, mas o barulho do rio e da chuva não deixava a gente escutar. A gente gritava daqui e eles não ouviam a gente. Tudo que eu mais queria e pedi pra Deus, foi que o dia amanhecesse logo pra que eu pudesse ver. [...]” Patrícia conta que pela manhã, tudo havia mudado e prosseguiu: “A gente conseguiu salvar minha sogra que não foi levada não. Mas a Sônia e seu marido... Eu gostava tanto dela. Passava na casa dela todo dia pra gente conversar. Eu jurava que ela ia sair da casa, menina. Mas ela não saiu.[...]”

Falou de sua fé em Deus. Disse que só com Ele consegue e nos mostrou paz ao dizer: “Eu sei que tem coisas que nunca vou saber e que só Ele sabe.” E insistiu com a sua fé. Nos mostrou o cachorro da família que, curiosamente, afirmam os donos que ele gosta de andar de moto. Ela contou também da sua vontade de estudar sobre informática e que só tinha saído de Vieira, para fazer um curso com a sua igreja em Nova Iguaçu. “Queria mesmo conhecer Copacabana. Lá é lindo, né? Mas eu gosto de viver aqui.”, diz olhando pro rio passando atrás de sua casa. Estava chovendo na hora. Sr. Djalma espera Deus abençoar para comprar um caminhão. Patrícia é uma mulher como qualquer outra de qualquer lugar do mundo. É bonita, é simples e sabe amar muito bem. Eu não, Patrícia. Eu sei nada da dor que você sente. Mas estou de luto com você. Pelas Sônias, Joãos e Filipes. Pelos nove de uma casa só por e tantos outros. Você é uma pessoa forte. Obrigada. Eu vi que, apesar de tudo, você é uma mulher feliz.

Vieira, 06 de março de 2011.

ALINE MOREIRA.

terça-feira, 8 de março de 2011

Uns lugares

Um dia ainda vou viver aqui...

GRÉCIA


TOSCANA

PATAGÔNIA


KAILUA KONA

ACAPULCO



REPÚBLICA DO CONGO
TAILÂNDIA


E claro... A TERRA DO NUNCA
(Em algum cafofo desse mundo, esse lugar tem que existir!)

Paz e bem.
Amora;)
Ps.: Vamos?

sábado, 5 de março de 2011

Impacto 2011

Tô indo!

Impacto de Carnaval, na serra.

Nós, da Jocum Rio.

Lá tá frio.
Tá frio lá.

Buh!

Conto tudo
quando voltar!

Bom feriado.
Paz e bem.
Amora=)

quarta-feira, 2 de março de 2011

O tom do amor


Às vezes eu esqueço.

Reginaldo. Esse era o nome do meu pediatra. "Tio Reginaldo" era como eu e meu irmão o chamávamos, quando íamos à Petrópolis para uma consulta de rotina. Eu gostava. Tinha um mural com fotos dos pacientes mirins em sua sala de espera. Lá estava eu vestida de índia. Todas as vezes que tinha de esperar naquela pequena sala, ficava reparando se minha foto havia sido mudada de posição, ou mesmo sido tirada dali. Então, certa vez minha mãe disse:

- Doutor, Aline anda muito esquecida. Tem remédio pra isso?

- Gabalon!

Era destinado ao tratamento do desgaste mental. Funcionou um pouco, eu creio. Nunca mais esqueci o nome do bendito remédio. Até que um dia, trabalhando com uma pediatra, ela me disse: Aline, isso não funciona. Talvez seja verdade. Estou pra lembrar de conhecer uma garota mais esquecida do que eu. Mas tem horas que dá certo com a ajuda do tempo. As águas de março estão caindo e isso me faz lembrar - sempre - que todo início de poesia, tem por ocasião um movimento no céu ou na terra. No escuro ou com sol. Faça vento ou sequidão. A poesia se dá pelo que a vida tem pra dar. Ao que meus olhos alcançam. Ao que eu estou sentindo agora.

Sinta comigo...
- o tom do Amor -

Eu não posso esquecer que
O amor não se vende.
O amor não se paga.
O amor não tem um tom.
Jabuticaba tem amor de graça.
Ou não?

Eu não posso esquecer que
Lá fora, mesmo que azul
Mesmo que cinza
E mesmo que beleza estampada
Dada plantada e regada
Não tem tom.

Não quero esquecer que
Sou minha maior desventura
Que corre de olhos vendados
Que pula poça
tipo Saci sarapintado
Enganador.
Impostor.
Soldado fanfarrão.

Não vou esquecer que
Tudo faz sentido
Onde encontro meu sentido
Seja na brecha da janela
Numa porta aberta
Numa porta aberta
Numa porta aberta
Ela sempre estará aberta.

Mas alerta, ó invasão!

Eu costumo esquecer
que
às vezes
O tom do amor sou eu quem dou.
Eu quem faço.
Traço o espaço
E que embaraço que sou.

Essa toada que descanta
E desperta como gota
que assusta
Me encanta.
E me faz perceber que
Tem coisas que
Nunca vão sair de mim.

Mas é que minha doutrina
Me reza todo dia
Um dó de desarmonia
Dorso ré
Sol, lá, mi.

Paz e bem.
Amora.

terça-feira, 1 de março de 2011

Para que serve uma foto mesmo?

Por Monitorando

Um dos maiores prêmios do fotojornalismo contamporâneo acaba de ser dado a um trabalho desconcertante: o retrato de uma jovem afegã que teve o nariz e as orelhas cortados pelo marido. A fotografia assinada pela sul-africana Jodi Bieber e publicada na capa da Time em agosto do ano passado venceu o Word Press Photo. Ousada e agressiva, comovente e revoltante, a imagem correu o mundo por conta da sua contundência e pelo impressionante alcance da publicação que a estampou nas bancas. Mas porque o jornalismo recorre a um expediente desses ainda hoje? Afinal, para que serve uma foto dessas?

Ps.: Sim. A Revista Time gosta muito de fotografias que explorem a dor alheia. Sim. pelo que parece, Jodi também. Não. Ela não é mãe do Justin.

Amora.