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sábado, 6 de agosto de 2011

Minha caminhada ainda não terminou - Final.

Oi!

-A arte de rir sozinha-

Despedidas...

Ontem foi meu último dia na Jocum. Coisa mais triste, do que deixar algo que se ama com tanta intensidade, não há. Eu parecia evitar a hora de sair da casa. Passei o dia como se fosse uma sexta como todas as outras. Afinal, segunda eu estaria lá outra vez. Mas no fundo, eu sabia que aquele dia seria diferente. Meu tchau, dessa vez, seria longo. Arrumei o que restava, e decidi toda majestosa que sairia dali direto pro CCBB ver uma nova exposição. Depois de abraços corridos em cada um que ali estava, meu Deus...

Descer aquelas escadas nunca pesou tanto! Bastou o 1º degrau pra que eu desmoronasse em lágrimas. Meu choro é raro. Quando vem, é porque dói mesmo. E lá ficou eu, de pé no ponto de ônibus, chorando como uma boba. Quando eu fico frágil demais, preciso de pessoas por perto. Pessoas que eu amo me dizendo que tudo vai ficar bem. Fui pro Jardim Botânico abraçar minha mãe. Na casa, sentei no vaso e ali chorei. Seria mais romântico na margem de um rio, mas não. Foi na privada mesmo e chorei toda minha dor. Por tudo que eu estava deixando pra trás. Por tudo que eu viria a deixar.

Minha sexta, dia 05 de agosto de 2011, foi daquelas que a gente guarda a data, pra nunca mais esquecer. Nossa, eu realmente amava o meu trabalho! Todas as meninas da casa, que se tornou "um lugar pra recordar", foram muito queridas e pacientes comigo. Com minhas manias e dias em que eu acordava de mal com o mundo todo. E eu aprendi tanto com todos ali. Graça, Bel, Inês, Lieke, Priscila, Michelle, Euro, Caio, César, Sheila... muito obrigada! Compartilhar a vida e tudo mais que fizemos juntos foi uma honra pra mim. Nossas conversas, risadas, jantares, reuniões e invenções. Tanta comida!!! Eu confesso que acho que fiquei mais esperta na cozinha. Perdi o medo de panela de pressão e até encarei um fogão violento que tem na casa. Nossas idas ao Habibs, ver filmes e novelas juntos, subir e descer aquelas escadas. Estar juntos para levar esperança para aquele povo... faria tudo de novo. Era chegar ao fim do dia tão cansada e tão apaixonada como tudo começou. E as horas que eu tive com as crianças, já falei sobre isso. Elas superaram qualquer um.

Eu realmente aprendi muitas coisas. Cresci. Mudei. O mundo ficou diferente. A decisão de ir para a Universidade (2ª feira acontece a minha primeira aula! Uhulll!!) tem parte diretamente com o que eu quero construir. A minha realização pessoal será traduzir essa nova fase, daqui há alguns anos, em tudo que sempre acreditei: Um Rio de Janeiro mais justo e transformado! Entendo que preciso viver isso. E precisa ser agora. Essa convicção faz com que essas despedidas sejam mais fáceis. Mas tô em paz! É meu novo compromisso comigo mesma e com tudo que faz sentido pra mim.

Chegar em casa com tantas malas... que desânimo! Não há espaço no chão do quarto do meu irmão (Desculpa, amor! Você sabe... que graça tem seu quarto sem minhas bagunças? Já, já isso será resolvido.) para nada. Detesto fazer e desfazer as malas. Coisa mais chata, não tem. Quer dizer, tem sim!

Esse último ano eu ganhei tantas coisas boas. Conheci pessoas tão legais. Vivi experiências tão especiais. Fui corajosa e tive medo. Experimentei sensações que nunca antes havia experimentado. Fiz coisas pela primeira vez. Ganhei novos amigos. Conheci novas canções. Aprendi novas palavras e novos sorrisos. Pessoas. Muitas pessoas. Dancei!!! Cortei muito meus cabelos. Tentei deixá-los crescer... nunca mais será. Não consigo. Acabei de voltar do salão. Cortei mais um pouco. Eu gosto disso!! =) Ahh, tive raiva, ódio, vacilei, ignorei e menti. Mas ri como não ria há um bom tempo. Isso foi demais!

Pessoas mudam nossas vidas o tempo todo!

Nesse ano também ganhei um grande amigo, com quem gastei horas e horas e horas e horas conversando, e que me colocava apelidos ridículos, que pedia perdão o tempo todo, que era convencido, fazia drama como ninguém, era insuportável quando falava de música, gostava de implicar e de me irritar, desesperado e assustadoramente chato.

Mas foi o melhor amigo que eu já tive.

Eu ganhei muitas coisas que não caberiam aqui. Decidi deixar só pro meu coração guardar, porque nele cabem coisas que a vida nem imagina. E é essa vida que desajeita e ajeita tudo ao mesmo tempo. É essa vida que nos surpreende, que nos apresenta o amor, a luta, a coragem, a alegria, a dor, a fé... a poesia. Quando você menos espera, essa vida acontece e passa diante de você. Quase que não dá pra ver. Essa vida também nos força a tomar decisões quase que impossíveis. Quase que difíceis demais pra ser verdade. Abrir mão do belo é algo devastador. Depois de ter feito algo na noite passada, algo que exigiu de mim uma força que confesso não ter, eu percebi que lidar com as perdas e despedidas, para mim, tornou-se uma questão de tempo. É como se eu realmente acreditasse que o tempo pode cuidar de tudo e trazer as respostas que eu preciso para poder prosseguir. Eu estou sempre me despedindo das pessoas e pedindo, gentilmente, que elas se retirem da minha vida. Talvez isso seja mais fácil do que vê-las partir. É um tanto egoísta, eu sei. Então, antes que seja tarde demais... outra vez, vale o eterno enquanto ele durar.

Nessa mesma noite, com mãos geladas e tremendo, com os olhos inchados de tanto chorar, eu me despedi daquilo que eu aprendi a acreditar. Foi uma das coisas mais tristes que eu já fiz. O simples é bonito, mas também basta pouco pra tornar tudo muito feio. Quando contei para minha mãe, ela disse: "Nossa, Aline. Que coisa mais triste. Como você consegue [...]? Chega dar um aperto no peito [...]".

Eu ri e falei: "Não sei. Não sei como. Saberia só se eu pudesse."

Daí, eu "ganhei" uma música.


Gosto de histórias. Significados. A letra da música foi criada, inspirada num poema de Jorge de Lima (1893-1953) , que contava sobre Agnes, uma equilibrista por quem um médico se apaixona. Ele encontra no mundo do circo a satisfação de todos os seus anseios. Mas Beatriz é inatingível. É a história de um amor impossível. Ele não sabe quem ela é, de fato... Mas sabe que esse amor não pode acontecer. Numa homenagem a Beatrice Portinari, de Dante, Chico Buarque a pôs no sétimo céu, vindo a criar, então, uma de suas mais sofisticadas canções. No álbum: O Grande Circo Místico, a canção é interpretada por Milton Nascimento. Beatriz é um poema de delicada beleza. Acima, ela é tocada por Ricardo Herz, um violinista espirituoso, que nos enche de virtude a cada nota.

Olha,
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?
Será que é o contrário?
Será que é pintura o rosto da atriz?
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel

E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha,Será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura?
Será que é cenário a casa da atriz?
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel

E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão

Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha,Será que é uma estrela?
Será que é mentira?
Será que é comédia?
Será que é divina a vida da atriz?
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida. . .



-Beatrice Portinari, de Dante-


Bem, eu não a ganhei. A deixaram comigo. Eu só preciso guardar.

Muito Obrigada! Tem coisas que a gente nunca vai esquecer...

Levo comigo...
Como tudo que passou.
A vida segue.
Para sempre é sempre por um triz...


Chega, né? Já falei demais!
Todo meu amor pra quem ler esse post gigante.
Só fique aqui!

Aline.