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terça-feira, 19 de julho de 2011

Porque eu excluí meu Facebook e meu Twitter. Outra vez.

Que eu gosto de muito internet, todo mundo já sabe. Eu confesso que preciso dela e que ela tornou tudo muito mais prático e trouxe o mundo pra perto. Mas sem dúvidas, alguns hábitos podem ser mudados e deixados pra trás.

Há algo de muito bom e ao mesmo tempo de muito assustador nesse universo on line, on time e full time. Algumas vezes eu penso nessa velocidade que carrega tudo o que somos nas costas. Num tempo onde o mundo é plano, a capacidade dessa ferramenta de compartilhar, conectar pessoas, gerar democracia no acesso, entreter, expor, construir, destruir, aproximar e afastar, é algo indiscutível. E foi numa reportagem da revista "A rede", que trata de inclusão digital nas comunidades, que eu fui conduzida em outubro ano passado, a refletir sobre o acesso em si, e entender, de fato, que ele não significa informação. Na época, pensei pela segunda vez em excluir minhas contas nas redes sociais. Assim o fiz e fiquei 3 meses sem frequentá-la. No início deste ano, ativei-a novamente e hoje, após ler uma entrevista do escritor Nicholas Carr, concluí que definitivamente, as redes sociais ( e toda a internet) tendem a esgotar imperceptivelmente algumas habilidades naturais do ser humano. Segue abaixo a entrevista que o escritor concedeu à revista Veja, que me convenceu sem muitos esforços, a tomar essa atitude. Uma vez que vou para a Universidade em três semanas, tudo que vou precisar nos próximos 4 anos, é de uma memória impecável.

- A internet pode ser um perigo para a memória

"O americano Nicholas Carr, 52 anos, é formado em inglês e fez mestrado em literatura americana. Com uma prosa extremamente eficiente, Carr tornou-se escritor de não ficção. Escreve livros sobre cultura, economia e, especificamente, tecnologia. Quando a maioria das pessoas só via os benefícios da internet e as maravilhas do Google, Carr publicou um artigo na revista The Atlantic dizendo que, talvez, a rede mundial estivesse nos idiotizando. Ele contava que, como usuário intensivo da internet, vinha observando que sua capacidade de concentração e contemplação já não era a mesma. Ler um livro estava virando um sacrifício. Hoje, três anos depois, o escritor acha que melhorou um pouco, mas a custa da redução do seu tempo on-line. "Mudei alguns hábitos. Fechei a minha conta no Twitter e no Facebook. Os dois prestam um serviço útil, mas provocam muita distração, mandando mensagens o dia inteiro." Agora, com a pesquisa que mostra que o Google pode estar afetando o modo como a memória humana funciona, Carr sente-se como se já soubesse disso. Do estado do Colorado, ele falou a Veja por telefone e disse que o seu livro mais recente, The Shallows, que trata dos efeitos da internet sobre o cérebro humano, deve ser lançado no Brasil esse ano. Quando perguntaram o nome da editora brasileira, Carr deu uma resposta que vale a leitura da entrevista a seguir.




-O que o senhor achou da pesquisa que mostra que o cérebro tende a esquecer o que pode ser achado facilmente na internet?

A pesquisa é fascinante. Ela mostra a enorme plasticidade do cérebro. Claro que a memória humana já passou por mudanças com o advento de outras tecnologias de comunicação e informação, mas nunca tivemos à nossa disposição um estoque tão vasto e tão fácil de acessar como a internet. Talvez estejamos entrando numa era em que teremos cada vez menos memórias guardadas dentro do cérebro.

-Quando descarta a memória fácil de recuperar e armazena a memória que pode sumir, o cérebro está sendo inteligente?

Não. Acho isso perigoso. A perda de motivação para memorizar informações pode degradar nossa capacidade cognitiva. Na história humana, sempre guardamos memórias em lugares externos, fora do cérebro. A diferença, agora, é que a internet é imensa. O cérebro pode descartar um enorme volume de informações. Ou seja: no passado tínhamos lugares externos para complementar nossa memória; agora a internet pode substituir nossa memória. É um perigo. A memória fora do cérebro não é igual a memória dentro do cérebro. O que guardamos na cabeça nos permite fazer associações, conexões, aprofundar o conhecimento, elaborar, reelaborar. É isso que nos torna únicos.

-Sócrates, o filósofo grego, reclamava do advento da escrita dizendo que era um estímulo ao esquecimento. A internet não é a mesma coisa, em nova escala?

Há uma diferença importante. Sócrates reclamava do ato de escrever antes de a forma do livro ter sido inventada. Ele estava certo no estímulo ao esquecimento proporcionado pela escrita, mas a chegada do livro ajudou a ampliar a memória humana ao contribuir com o aumento da nossa atenção, da nossa capacidade de concentração. É possível que a internet, em algum momento no futuro, também seja complementada por outra invenção ou comece a ser usada de um jeito diferente, de modo a passar a exercer um papel semelhante ao que o livro teve para a escrita. Mas examinando-se a história da internet nos últimos vinte anos, o que se vê vai na direção contrária. Cada vez mais, a maioria das pessoas usa a internet para acesso a informações rápidas, curtas.

-O senhor acha que a internet está mudando nosso modo de pensar?

Sem dúvida. A internet estimula certos modos de pensar e desestimula outros. O pensamento atento, focado, concentrado é algo que claramente ela desencoraja. A internet estimula o usuário a folhear, passar os olhos, não a mergulhar com profundidade. Com a rede, nosso conhecimento está mais amplo, mas mais superficial.

-Ao mudar hábitos on line, o senhor conseguiu recuperar a concentração necessária para ler um livro como Guerra e Paz?

Consigo ler, mas é mais difícil do que antes. Tenho de fazer um esforço. Posso sentir minha cabeça resistindo contra ficar focada num conjunto de páginas por determinado período. Acho que, ao usar tanto meu computador para navegar na rede, acabei treinando meu cérebro para distrair, mudar de foco, dividir a atenção rapidamente. Para ler um livro, tenho de combater esse novo instinto.

-Seu artigo publicado na revista The Atlantic indagava se o Google estava nos tornando idiotas. O senhor chegou a uma resposta?

Escrevi o artigo, mas o título quem deu foi um editor da revista. Eu não usaria a palavra "idiotas". No fim das contas, acho que o Google, ou a internet de modo mais geral, está nos tornando superficiais como pensadores. Trato disso no meu último livro. Em algum momento deste ano, deve ser publicado no Brasil, inclusive.

-Qual editora?

Espere um momento. Só um momento...

-O senhor está consultando na internet?

Pois é, estou conferindo no site do meu livro.

-Ainda bem que a internet existe, não?

Mas acho que se eu estivesse sem acesso à internet eu conseguiria me lembrar. Está aqui, é Ediouro."


O velho ditado diz que para toda regra, existe sempre a célebre exceção. Tendências como essa, só me fazem perceber que eu não faço parte do grupo dos "excetos". Atentando em minhas deficiências, eu preciso abrir mão de coisas que, ainda que legais, não vão contribuir. Dessa vez foi pra valer. Acreditem, eu não vou voltar. Alguém quer apostar? =D

Aline.

Outro olhar


Amora.