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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Minha caminhada ainda não terminou - 1.

"Olha o palácio, tia!"
-Liandra, 3 anos-

Era um palhaço.

Hoje foi meu último dia com as crianças. Passei uma semana inteira com elas. Entre brincadeiras e muitos "separar de brigas", eu só pensava numa coisa: "Que saco ter que deixar vocês!" Há um ano eu arrumava minhas malas outra vez. Lembro de ter deixado meu guarda-roupas apenas com os cabides, um vestido preto e umas caixas que guardam coisas do meu passado. Coisas que ainda não tive coragem de jogar fora. E eu arrumei as malas com gosto! Isso porque eu estava seguindo em direção a realização de um sonho. Não havia nada mais que eu quisesse tanto em agosto de 2010 do que vir para a Jocum e iniciar uma carreira que mudaria completamente a minha vida.

Lembro da minha mãe chorando e do meu pai vindo me trazer em São Cristóvão. Lembro do meu 1º dia na casa e de cada detalhe. Eu estava tão, tão, tão feliz que seria capaz de contagiar qualquer pessoa. Nada era mais importante do que esse novo começo. A minha disposição em enfrentar qualquer barra que viesse, era maior do que eu podia imaginar. Priscila, lembro de você me recebendo no quarto e me perguntando se eu ia querer a cama de cima ou a de baixo. E então, de repente, eu estava bem. Afinal, era tudo que eu mais queria!

Daí eu vi as crianças pela 1ª vez. Naquele dia, eu tinha certeza de que passaria a gostar mais delas do que de qualquer outra coisa que fosse importante para mim. E gostei, viu? Bel me disse:

- Você precisa conquistar a confiança delas, Aline.

Conquistei, ensinei, amei, brinquei, chamei atenção e o mais legal: o que eu aprendi com elas em um ano, não troco por nenhuma outra experiência adquirida dentro de uma sala ou em um livro. Para sempre, não. As crianças tem um dom de ensinar com a vida, com o jeito, com a verdade, com a inocência, com a azeda transparência e toda a generosidade do mundo. Elas são tão parecidas com Ele, que te faz todos os dias querer ser uma pessoa melhor. Criança não tem nojo, não mede e não separa. Criança confia, acredita, tem esperança, vê luz em tudo e em todos. Criança reparte, te beija, te conforta e te faz rir. Criança imagina, inventa com o pouco, não compete e sabe perdoar. Criança não ignora, respeita as diferenças e gosta de você do jeito que você é. Ela não vê se você está calçado ou se usa perfume. Ela não se importa se você sabe falar bem ou se você não tem grana. O amor de uma criança é amor de verdade. Ela gosta de verdade. É amiga de verdade. A proteção dela por você, está além da força física, o que ela nem tem. Essa proteção está guardada e ela acredita com todas as suas forças, que realmente pode exercer cuidados sobre a sua vida.

Criança não se preocupa com o que os outros estão pensando. Não tem medo do futuro. Não ficam ansiosas e nem preocupadas. Não há mal propósitos no que fazem. Há uma vontade que nossa mente não alcança, de ser aquilo que são. Sem expectativas ou ressentimentos. Elas são a melhor coisa do mundo e mais do que nunca, me fizeram entender Deus. Nesse tempo, eu aprendi que não há nada que eu faça de tão grandioso, afim de chamar a atenção delas, que seja mais legal do que uma simples hora sentada na calçada jogando conversa fora. Ouvindo o que elas tem a dizer e vivendo cada dia, como únicos que, de fato, são.

VIVER AQUI NO TUIUTI FOI A MELHOR COISA QUE ME ACONTECEU!

Não há nada nesse mundo mais precioso do que compartilhar a sua vida. Eu posso ter conhecido pessoas e ter aprendido coisas novas com essas pessoas. Posso ter dado com a cara no chão, ter chorado, ter errado e ter me arrependido. Ou não. Posso ter gostado, ter ignorado, ter voltado atrás e ter tentado outra vez. Eu conheci novas palavras, novas músicas, novas posturas. Encontrei e reencontrei corações especiais. Vi drogados de perto. Vi meninos vivendo na rua de perto. Vi pessoas em estado de degradação total da dignidade. Vi meninas se prostituindo. Vi traficantes vendendo drogas. Vi gente armada até os dentes. Vi gente sendo humilhada. Vi mulher apanhando. Vi gente morta na rua. Eu vi a vida passar...

Fiz pouco.

Eu entendo que ir para a Universidade hoje, representa um tempo que precisa ser cumprido em minha vida. E vou cumprir! Arrumar as malas, ainda que a faculdade seja um outro sonho, não tem (nem de longe) o mesmo gosto que teve quando fiz isso o ano passado. Eu tô indo embora e deixando grande parte do meu coração aqui. Mas apesar de ser assim, eu estou em paz. Tudo fica muito pesado quando não se vê propósitos. O meu maior desejo é que a mesma garota que há 8 anos descobriu o que veio fazer no mundo, continue a olhar pra vida com aquela velha esperança, ainda que seja difícil. Ainda que outros caminhos. Ainda que a dor....

Bem... depois eu continuo. É demais pra mim. =(